O que você vai ser quando crescer?” “Eu quero que você seja alguém na vida!” Provavelmente, você também já deve ter escutado ou falado frases semelhantes a essas, não é verdade? São indagações feitas pelo mundo adulto às novas gerações que, de modo consciente ou não, estimulam a ideia de futuro da garotada.

Ao realizar visitas a programas sociais, escolas públicas e privadas de diversos níveis, além de unidades socioeducativas que recebem adolescentes em conflito com a lei espalhadas pelo país, é possível aprender muitas coisas. Para tanto, é preciso manter um olhar atento e metódico para fazermos a correta leitura dos fatos e feitos que transcorrem diante dos nossos olhos.

Ao me conectar com as ferramentas de trabalho utilizadas pelas equipes de educadores, identifico um conjunto diversificado de atividades dirigidas às crianças, aos adolescentes e aos jovens. Para além das ações recreativas, esportivas, sociais, culturais e profissionalizantes, chamo a atenção, especificamente, para algumas técnicas formativas que costumam ser batizadas da seguinte forma: estudo de caso; análise de portfólio; plano individual de atendimento (PIA); histórias de vida; interpretação de prontuários dentre muitas outras.

O que essas atividades têm em comum? A tendência de influenciar o olhar dos educadores, predominantemente, para o passado do menino ou da menina, atitude que pode estar recheada de riscos e incertezas. Por quê? Há educando, por exemplo, vítima de maus tratos, abusos, humilhações e outras formas de degradação física, psicológica ou moral que, diante de uma nova oportunidade educativa, se revela otimista, sensível, criativo, participativo, enfim, aberto para aproveitá-la da melhor forma possível.

O outro lado da moeda, porém, explicita um dado muito interessante. Existe adolescente ou jovem com trajetória de vida, à primeira vista, muito mais “tranquila” (desprovida de agressões ou outras formas de violência), “chutando” as oportunidades educativas que poderiam exercer um impacto positivo em seu futuro. Não estão nem aí: mostram-se apáticos, violentos ou mesmo desorientados, passivos e sem rumo existencial.

Onde reside a raiz do problema? A atitude básica diante da vida (otimista ou pessimista; proativo ou reativo; de abertura ou de indiferença) assumida pelo educando não está, necessariamente, ligada ao seu passado. As suas condutas e posicionamentos, muitas vezes, são fortemente influenciados pela falta de boas expectativas para com o próprio futuro. Trata-se da ausência ou insuficiência de desejos e sonhos alicerçados em uma visão positiva do seu futuro.

Eis uma diferença vital: o incentivo vem de fora para dentro e a motivação é um movimento inverso: refere-se a uma dinâmica que flui de dentro para fora. O educador pode incentivar o educando, mas não pode motivá-lo. Na verdade, nós podemos “bater na porta da motivação”, mas somente a criança, o adolescente ou o jovem pode abri-la de modo autêntico, assumindo o protagonismo de sua vida e, gradativamente, tornando-se mais apto a olhar para o futuro sem medo. As novas gerações precisam ser preparadas para fazerem escolhas construtivas e bem fundamentadas nas diversas esferas da vida.

A nossa juventude merece e tem o direito de lutar por novas, maiores e melhores conquistas, sem abrir mão dos seus sonhos. Os adolescentes e os jovens precisam desabrochar o imenso potencial criativo, edificante e transformador que pulsa em seus corações, mentes e espíritos. Para fazerem os seus projetos de vida transitar da intenção para a ação; da teoria para a prática; do desejo para a realidade, precisam, antes de tudo, de “querer ser”: atitude interior que lhes ajudarão, juntamente com outras posturas, a assumirem o comando de suas vidas, gerenciando os seus pensamentos e sentimentos; emoções e ações; visões e realizações.

A primeira e inadiável função do educador que pretende contribuir para que o educando construa um projeto de vida positivo e consequente, portanto, é a de ajudá-lo a querer ser alguém na vida. Cumprida essa tarefa, o adolescente ou o jovem poderá cultivar um terreno fértil para florescer tudo aquilo que traz de melhor consigo, visando alargar e ultrapassar os limites do próprio futuro!

 Alfredo Gomes

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