Neste artigo, compartilho alguns princípios que turbinam o processo de implantação e desenvolvimento da educação integral que a sociedade necessita para ser justa; que a cidadania exige, por ser um direito; que a política requer, para ser forte; que a economia precisa, para ser próspera e competitiva; e que o ser humano pressupõe, para ser respeitado em sua dignidade e integridade. Eu tive a honra e a alegria de participar da jornada pedagógica de Pernambuco, ministrando diversos cursos para milhares de educadores de mais de trezentas escolas públicas e, dessa forma, contribuindo para a implantação da Educação Integral como política pública do Estado: uma inovadora e arrojada proposta educacional comprometida com o pleno desenvolvimento do potencial das novas gerações.

O último resultado do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) classifica o estado de Pernambuco como líder no ranking do ensino médio no Brasil. Embora o país ande “mal das pernas” quando o assunto é educação, não se pode deixar de explicitar que os pernambucanos estão dando uma exemplar lição para os demais estados, que pode servir, também, como fonte de inspiração: mesmo diante das adversidades, é possível e necessário apostar em um processo educacional de qualidade, criando condições para que os nossos adolescentes e jovens possam olhar para o futuro sem medo!

A Educação Integral em Pernambuco tornou-se Política Pública de Estado em 2008. O modelo fundamenta-se na concepção da Educação Interdimensional*, como espaço privilegiado do exercício da cidadania e o protagonismo juvenil como estratégia imprescindível para a formação do jovem autônomo, competente, solidário e produtivo. (…) A Educação Interdimensional compreende ações educativas sistemáticas voltadas para as quatro dimensões do ser humano: racionalidade, afetividade, corporeidade e espiritualidade”. (Fontehttp://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=1&men=70 ) (*Grifo nosso).

A Educação Interdimensional, inovador ferramental teórico/prático voltado para a formação do educando na sua inteireza e complexidade, foi concebida pelo prof. Antonio Carlos Gomes da Costameu irmão, com o qual trabalhei durante dezoito anos. Trata-se de uma das mais relevantes obras do seu legado. A Educação Interdimensional representa uma fonte de significado e o suporte de sentido para todos que trabalhamos e lutamos a favor da implantação e universalização da educação integral no país, com elevados níveis de qualidade.

A “nata” deste paradigma educacional inovador pode ser definida com a seguinte meta-síntese: a Educação Interdimensional como base; a inovação em conteúdo, método e gestão como meio; a formação do jovem por inteiro (pessoa, cidadão e profissional) como fim!

Agora, passo a tecer alguns princípios que favorecem a construção de um projeto pedagógico capaz de fazer a diferença, gerar impacto e agregar valor à causa da educação integral no país, especialmente em relação ao nível médio de ensino:

  • A ampliação das ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL precisa andar de mãos dadas com a EDUCAÇÃO INTEGRAL: além de aumentar a carga horária do estudante nos estabelecimentos de ensino, é vital que ele tenha acesso a um rico e diversificado Itinerário Formativo que lhe permita desenvolver múltiplas competências e habilidades;
  • A educação integral inclui e ultrapassa as salas de aula e os muros da escola. A percepção da comunidade como agente educativo ou, de forma mais ampla, da cidade educativa, se traduz na consideração de que os parques ecológicos, museus, quadras poliesportivas, associações, feiras, organizações sociais, centros de pesquisa e muitos outros representam espaços formativos que devem ser deliberadamente utilizados na educação dos adolescentes e dos jovens;
  • A consideração de que “nem todo pai é educador familiar e nem todo educador familiar é pai” abre o leque para o respeito às diversas formas de constituição das famílias. Do ponto de vista pedagógico, o que realmente importa é que os educadores familiares desenvolvam um conjunto de atitudes que contribuam para o sucesso do estudante na escola e na vida;
  • O reconhecimento do princípio de que não basta ser um bom professor. É indispensável que todo o corpo docente das escolas incorpore uma atitude básica (fonte de pequenos atos) de educador, exercendo influências construtivas, intencionais e duradouras na vida dos estudantes;
  • A compreensão, a incorporação e a prática da Pedagogia da Presença pelos educadores, contribuindo, especialmente, para o desenvolvimento das competências socioemocionais ou “aprender a ser e aprender a conviver” do estudante;
  • O equilíbrio metodológico entre o didatismo (aula expositiva) com atividades de autodidatismo (aprendizado personalizado), didáticas cooperativas (times de trabalho) e construtivismo: atividades voltadas para a resolução criativa de situações-problema na sala de aula, na escola, na comunidade e na vida social mais ampla;
  • O alinhamento sobre a natureza dos conteúdos transversais, ou seja, aqueles que não são trabalhados por uma única disciplina ou área de conhecimento. São, na verdade, conteúdos flexíveis que podem ser oportunizados aos estudantes, respeitando a sua condição peculiar de desenvolvimento;
  • A organização, o planejamento e a realização de atividades que permitam ao estudante apropriar-se de uma filosofia de vida alicerçada nos Pilares da Educação da UNESCO: aprender a ser (competências pessoais), aprender a conviver (competências relacionais), aprender a conhecer (competências cognitivas) e aprender a fazer (competências produtivas);
  • A utilização de instrumentos personalizados e flexíveis que estimulem o estudante a realizar duas tarefas vitais: a construção da sua identidade (Quem sou eu?) e do seu projeto de vida (O que eu vou ser?), apoiando-se nas melhores, maiores e mais bem fundamentadas visões de homem, nos planos nacional e internacional;
  • A construção de um robusto “colar de pérolas” que estabelece os necessários níveis de sintonia entre os gestores, professores e demais educadores, visando a formar um verdadeiro time que fala a mesma linguagem; aposta em estratégias compartilhadas entre si; domina métodos e técnicas de ação educativa; e age, em certos casos, sem orientação como se estivesse com orientação. Tudo isso tem um nome: alinhamento de equipes!

Estamos falando de algumas sementes pedagógicas que começam a dar os seus primeiros frutos, sinalizando que poderão ser ainda mais vigorosos para a universalização da educação integral no país, com elevados níveis de qualidade. São muitas as organizações, grupos e pessoas que vêm trabalhando e lutando por essa causa no Governo, no mundo empresarial e nas ONGs, construindo uma equação de corresponsabilidade pelo todo.

O protagonismo e o irreprimível desejo de crescimento dos estudantes merecem nossos aplausos e, especialmente, o reconhecimento de toda a sociedade. Para dar certo, o Brasil depende das novas gerações. Não podemos abrir mão, portanto, da formação qualificada das equipes de educadores, para que estes possam dar um salto triplo vital: compreender, aceitar e praticar as inovações da Educação Integral.

 Alfredo Gomes

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